Friday, November 15, 2019

"Miguel Franco: artigo muito breve "de Jorge Pereira


Miguel Franco: artigo muito breve

  • aO ator, encenador e dramaturgo português,






  •  não necessariamente por esta ordem, "voltou a respirar" poesia


  •  na apresentação na Cinemateca Portuguesa de Filme Muito Breve


Miguel Franco e Maria Cabral em O Cerco

"Sou sobretudo um ator, sou dramaturgo por ser um ator". Assim o diz Miguel Franco (1918-1988) neste Filme Muito Breve, um ensaio biográfico assinado pelo seu amigo Miguel Cardoso, que completa assim um "ciclo inesperado de biografias de gente surpreendente e notável do cinema nacional" que conheceu desde o seu primeiro trabalho profissional em 1971: Lotação Esgotada de Manuel Guimarães.
Recorrendo a imagens de arquivo, quer pessoais de Miguel Franco, quer da Cinemateca, do Arquivo Municipal Fotográfico de Lisboa, do Museu do Teatro e da RTP, Miguel Cardoso leva-nos numa viagem - sempre poética - pela vida de Miguel Franco, um leiriense nascido em 1918 e "que dizem" ter "partido" em 1988.
Com carreira no teatro e também na TV, não esquecendo a escrita que nos acompanha permanentemente pela voz do próprio Miguel Cardoso, Filme Muito Breve - que vai buscar o título ao livro do autor Visita Muito Breve - acompanha todo o percurso de um "contador de histórias" cuja visão e personalidade colidiu algumas vezes com o Estado Novo, sendo o caso mais famoso a censura à sua peça O Motim, após umas escassas 4 (ou talvez 5) performances no Teatro da Avenida em Lisboa.
Narrando o seu percurso no teatro e literatura, deixando as suas presenças cinematográficas falarem por si mesmo, Miguel Cardoso constrói aqui uma sensível colagem de memórias, que não só acompanha Miguel Franco, mas igualmente alguns daqueles que lhe fizeram companhia com a sua amizade, como Bernardo Santareno. E é um deleite ouvir as palavras que Miguel Franco deixou impressas e as imagens que imortalizou em objetos filmicos tão diferentes como Crime na Aldeia Velha, O Cerco ou o Rei das Berlengas.

Miguel Cardoso na Cinemateca Portuguesa

"Gostava que o deslumbre que senti pelo reatar do convívio com o meu amigo Miguel Franco, que ao longo de toda esta produção sempre me acompanhou, se riu comigo dalgum disparate, me apontou soluções, se deliciou com o desempenho do seu papel de biografado, gostava que tudo isto tivesse ficado à mostra para o poder partilhar com todos os amigos", diz Miguel Cardoso na sua nota de intenções, fazendo-se acompanhar na Cinemateca por aqueles que o ajudaram a criar este trabalho: José Santos, Maria João Franco e Carlos Alberto Lopes.

Sunday, November 10, 2019

do JORNAL DE LEIRIA



Viver

"Filme Muito Breve" documenta a vida de Miguel Franco

8 nov 2019 15:30

Ante-estreia na Cinemateca, na quarta-feira.



Jacinto Silva Duro
No dia 13, quarta-feira, às 21:30 horas, a Sala Félix Ribeiro, da Cinemateca Portuguesa recebe a ante-estreia de Filme Muito Breve, um documentário biográfico, com 68 minutos de duração, sobre o encenador, dramaturgo e actor de Leiria Miguel Franco (1918-1988), no âmbito da celebração do centenário do seu nascimento.

Saiba mais sobre Miguel Franco
A sessão contará com a presença do realizador Miguel Cardoso. Para reserva de bilhetes, deverá contactar o seguinte endereço de correio electrónico divulgacao@cinemateca.pt.
PERFIL
Actor e contador de histórias, o lugar de Miguel Franco no teatro e cinema do século XX é inquestionável, embora, até mesmo na sua cidade-natal, a sua obra quase tenha caído no esquecimento.

"Se vivesse num país qualquer, que não Portugal, teria sido reconhecido como um actor de alta craveira", assegura Miguel Cardoso, que sublinha que "basta ver como desempenha os seus papéis e o modo como, quase sem diálogo, consegue construir uma personagem. Era um bicho da representação. Um actor inato!"

Além da 7.ª arte, o dramaturgo foi um artista de palco e um escritor frenético. A mensagem que transmitia nas suas peças no Portugal do Estado Novo criou-lhe alguns problemas com o regime. O Motim é o melhor exemplo disso.

A peça é uma parte fundamental da vida de Miguel Franco e da dramaturgia portuguesa. Publicada em 1963, após ter sido aprovada pelo comité de leitura do Teatro Nacional D. Maria II, órgão paralelo à Censura, foi escolhida para inaugurar a temporada da companhia do Teatro Nacional, no Teatro Avenida, em Lisboa.
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Miguel Franco , o teatro , o cinema, a dramatugia

Jacinto Silva Duro
Miguel Franco está presente em boa parte dos filmes icónicos da Nova Vaga portuguesa; títulos como O CercoLotação EsgotadaA Fuga e os inesquecíves O Rei das Berlengas ou Manhã Submersa.

A sua peça O Motim teve o condão de irritar Marcello Caetano e levou a PIDE a invadir o Teatro Avenida, onde a companhia de Teatro Nacional a representava. Leiria vai soprar 100 velas ao dramaturgo e actor com um extenso programa, que inclui leituras encenadas de uma das suas peças e a exibição de boa parte dos filmes onde participou, sempre que possível com a presença dos realizadores. Será também apresentado um documentário de 69 minutos, da autoria do cineasta Miguel Cardoso que, com a filha Maria João Franco e Graça Teixeira, organizaram a celebração do centenário.
O filme inclui excertos das películas onde participou e alguns dos filmes que filmou em formato Super 8, entre eles, o making of do último dia de rodagem do filme Lotação Esgotada.
Quem foi Miguel Franco?
Actor e contador de histórias, o lugar de Miguel Franco no teatro e cinema do século XX é inquestionável, embora, até mesmo na sua cidade-natal, a sua obra quase tenha caído no esquecimento.
"Se vivesse num país qualquer, que não Portugal, teria sido reconhecido como um actor de alta craveira", assegura Miguel Cardoso, que sublinha que "basta ver como desempenha os seus papéis e o modo como, quase sem diálogo, consegue construir uma personagem. Era um bicho da representação. Um actor inato!"
Além da 7.ª arte, o dramaturgo foi um artista de palco e um escritor frenético. A mensagem que transmitia nas suas peças no Portugal do Estado Novo criou-lhe alguns problemas com o regime.

O Motim é o melhor exemplo disso. A peça é uma parte fundamental da vida de Miguel Franco e da dramaturgia portuguesa. Publicada em 1963, após ter sido aprovada pelo comité de leitura do Teatro Nacional D. Maria II, órgão paralelo à Censura, foi escolhida para inaugurar a temporada da companhia do Teatro Nacional, no Teatro Avenida, em Lisboa, que também abria portas após ser recuperado, na sequência de um incêndio.

"No dia 5 de Fevereiro de 1965, a inauguração contou com a presença do Chefe de Estado, Américo Thomaz, e de uma assembleia de espectadores muito selecta, que incluía ainda três ministros, o director do Teatro Nacional e Marcello Caetano. Diz-se que, após a ovação, quando o pano caiu, à saída, terão ouvido este último dizer 'andamos nós a pagar motins'", recorda Miguel Cardoso.

Quatro dias depois, a PIDE invadiu o Avenida, rasgou cartazes e proibiu a venda de bilhetes. A peça aborda a sublevação dos homens do Porto contra a criação da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, punida por ordem do marquês de Pombal, com a condenação à morte de 30 cidadãos que teriam participado nesse motim.

O modo como Miguel Franco desenhou a personagem de um dos acusados, Tomás Pinto, que se impõe como modelo de dignidade e de resistência à sentença, explica a proibição de exibição da peça pelo regime salazarista após cinco representações.

A segunda peça que é importante na obra de Miguel Franco é Legenda do Cidadão Miguel Lino, onde faz, de certo modo, o luto do filho, e cuja acção se passa durante as Invasões Francesas, em Leiria, junto ao convento da Portela, local onde um grupo de resistentes fez frente ao invasor.
Homem do cinema
A partir de sábado, o Teatro Miguel Franco, em Leiria, inicia um ciclo de cinema com as películas de produção nacional onde participou, desde O Tesoiro, de António Campos, datado de 1958, até Vidas, de António da Cunha Telles, estreado em 1983.
A entrada no mundo da 7.ª arte, como já havia sido no teatro nacional, foi-lhe franqueada por Bernardo Santareno. Este dramaturgo, que o convenceu a escrever o texto d'O Motim, apresentou-lhe Manuel Guimarães, um realizador ligado à corrente neo-realista portuguesa, que o recrutou para O Crime da Aldeia Velha, de 1964, com produção de António da Cunha Telles.
"O Cunha Telles percebeu-lhe o talento e convidou- -o a entrar num dos papéis principais d'O Cerco, de 1969, aquele que é considerado o filme que inicia a Nova Vaga", recorda Miguel Cardoso.
O filme foi bem recebido pela crítica e participou, em 1970, nos festivais de Cannes e San Sebástien, cujo presidente do júri foi Fritz Lang. Miguel Franco participou em, pelo menos, 15 filmes, entre nacionais e estrangeiros.
Entre as várias histórias memoráveis dessa passsagem pelo cinema, conta-se a rodagem d'O Rei das Berlengas, de Artur Semedo, filmado em grande parte no Castelo de Leiria. Ora, o período em que a equipa esteve na cidade coincidiu com o 25 de Novembro de 1975 e estava previsto que um helicóptero aterrasse no largo em frente à igreja de São Pedro, ao lado da sede da PSP.
"Foi uma confusão. Foi preciso avisar que aquilo não estava ligado com o levantamento militar que estava a acontecer", recorda Maria João Franco.
Tá -Mar

Miguel Franco no papel de "Lavagante"
Edith Franco no papel de Mari-Bem

Grupo de Teatro Miguel Leitão
1950

foto Fabião/Leiria

O teatro estava-lhe na alma
Dizia que iria morrer apenas aos 92 anos, contudo, uma crise repentina de saúde traiu essa previsão em Novembro de 1988, aos 70 anos. Maria João, que, aos cinco anos começou a segui-lo nos bastidores do teatro, recorda-o como uma pessoa extrovertida e comunicativa. Miguel Franco teria seis anos quando começou a reunir os miúdos que viviam na Rua da Beneficência, junto ao Terreiro, em Leiria, para os desafiar a fazer circo e teatro.

"Dirigia aquela garotada toda e ainda cobrava bilhetes! Estava- lhe na alma", recorda a filha. Aos 12 anos, ao mesmo tempo que frequentava a Escola Comercial e Industrial, começou a trabalhar na Moagem Leiriense. Aos 18, deu os primeiros passos no teatro, num dos grupos do Arrabalde.

Pai Paulino, a primeira peça onde participou como actor, data de 1941, após isso, em 1950, criou o teatro Miguel Leitão, em honra ao antigo grupo dirigido por Miguel Joaquim Leitão. No entanto, já nos anos 60, divergências sobre o papel público que o Grupo de Teatro Miguel Leitão deveria ter, levaram Franco a afastar-se, por entender que a acção do colectivo deveria ser cultural e não política.

Alguns actores seguiram-no e os restantes encenaram apenas mais uma peça, antes de o grupo se extinguir. Profissionalmente, tornou-se guarda-livros na Lubrigaz e chegou a ser o gerente da empresa.

Em 1958, fundou a Petroliz, empresa que chegou a ter negócios em vários ramos, entre eles uma loja de electrodomésticos na Avenida Combatentes da Grande Guerra, em Leiria. João Lázaro, director do grupo de teatro Te-Ato, recorda- se de, aos 19 anos, o encontrar à porta da loja. "Fui lá pedir-lhe permissão para usar o texto da Legenda do Cidadão Miguel Lino. Fui bem recebido, até que lhe disse que iria fazer adaptações e cortar."

Com a sua bigodaça e óculos grossos, Franco olhou para o jovem que se atrevia a pedir-lhe tal coisa e declarou: 'quem me corta texto é como cortar-me um braço!' Lázaro, à revelia, fez as adaptações e convidou-o para a estreia. "No fim, apontou-me o dedo e disse: 'você!... Amputou-me os membros todos, mas fez muito bem!'"

Programa
Centenário de Miguel Franco


Exposição biográfica, na Galeria Manuel Artur Santos, no Centro Cultural do Mercado de Sant'Ana, em Leiria

Ciclo de Cinema, de 14 de Abril a 28 de Julho, sempre às 21:30 horas, com organização de Miguel Cardoso

14 de Abril – O Tesoiro, O Senhor
14 de Maio – O Crime da Aldeia Velha
29 de Maio – Domingo à Tarde
12 de Junho – O Cerco
26 de Junho – Lotação Esgotada
3 de Julho – A Fuga
10 de Julho – O Rei das Berlengas – ou a independência das ditas
17 de Julho – A Culpa
24 de Julho – Manhã Submersa
28 de Julho – Vidas